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segunda-feira, 31 de março de 2014

Jana Winderen - Out of Range, um ato contra o monstro subjetivista.


Nós considerarmos que isso é tão surpreendente diz algo sobre nós...”.

Na frase da própria Jane, podemos extrair o sentido na nossa (não) capacidade de ouvir barulhos considerados não musicais, ou seja, nossa decrescente ao que se costuma chamar de médio, som de massas, ou desajustes a certos princípios que estão fora de nossa cosmogonia perceptiva- fomos tomados pelo monstro do subjetivo! 

Dentre a nossa sensibilidade perdida, Out of Range explora sons que sinalizam algum tipo de perfeição dentro da nossa própria cabeça, a impressão é de uma pesquisa autentica de alcance sonoro e perceptivo. Em 1968, enquanto Paris fervia, Bob e Becky Vernon encenavam um drama familiar no Vietnam, para quase cinquenta anos depois Jana transformar o mesmo ambiente degradado da guerra em estímulo de animais irracionais potenciais catalisadores de sonhos, capturados com equipamentos sonoros adequados, exibindo a relação entre o silêncio, a realidade carnal, enquanto investigamos seu próprio ambiente, e sua forma de sobreviver.

Já observado em seus trabalhos anteriores, Jana tem uma excelente bagagem no que se refere a uma construção espacial quase palpável. O acúmulo de frequências estridentes, cadência íntima, sons de pássaros e uma manipulação divina atingem nossos cérebros, exprimindo uma sensação inaugural. No decorrer de tudo, encaramos o nada em seu esplendor, sem amarras intelectuais, com viradas sutis e aconchegantes, onde as palavras se fazem desnecessárias; aliás, tolo erro meu tentar resenhar isso aqui. Ao ouvir esses sussurros tão simples e profundos, que dão sensação de infinito, e a gentileza que toda a ambientação me lembra do nada originário, nossa breve e curta estadia na Terra, nossa insignificância.

Em Out of Range temos um notável arranjo, que deixa fãs de Field recordings com água na boca, enquanto mostra para os iniciantes que o apuramento perceptivo-auditivo é um longo, enorme caminho. A noção e caracterização intelectual só vêm à cabeça depois de ouvir a gravação completa- é que nesta somos captados para outro plano de consciência. Após a audição total, percebo que ela está me educando a nunca mais esquecer sons que nos fascinam pela sua complexa simplicidade.

domingo, 30 de março de 2014

Splits- Joie De Vivre, Prawn, Run Forever, Adventures



Prawn / Joie de Vivre- Split [2014]


  


“... cercados por uma variedade de gente de fora, essas pessoas de dentro não tinham aspectos de pessoas normais, afinal”, Alice Munro

Tem uma distinção clara entre essas duas bandas, embora elas mais ou menos sigam a mesma tendência que tanta gente tem insistido em chamar de revival. O que vemos no Joie De Vivre são canções melancólicas, meio-tempo e as guitarras “twinkly”. O Prawn utiliza muitos elementos de pós-rock, aliando todo um cuidado com o processo instrumental e as habilidades líricas tipicamente emotivas. Mas apesar dessas aparentes diferenças, ambas unem-se para criar o lançamento mais legal do emo nesse ano, por enquanto.

Por sua vez, o Joie De Vivre continua na linha de seu último lançamento cheio, We’re All Beter Than This: canções curtas, menores que três minutos. Apesar disso, cheias de momentos realmente memoráveis. Diferentemente do tempo de duração de suas músicas, a banda está interessada em instantes que realmente capturam, como no trompete que acompanha a bateria detalhada, as dedilhadas de guitarra e as explosões desta com a voz imbatível do Brandon. Ora, esse segmento e imposição de certo estilo musical, ou modo de criar sua ambientação estética, catapulta o Joie para uma banda distintíssima, seja pro bem e pro mal. No meu caso, eu adoro.

Quando o disco atinge a parte do Prawn, o jogo já está ganho, e a banda completa com sua deliciosa simplicidade, instrumental detalhadíssimo com pausas dramáticas, referências às séries de TV. A banda continua brincando com as estruturas do “gênero”, e se mostra aqui um conjunto com mais vontade e irreverência do que nos lançamentos anteriores. Os sentimentos, claro, à flor da pele, invocando uma bela paisagem melancólica passiva, contemplativa.

E alguém talvez possa dizer: “mas em apenas cinco canções, esses rapazes conseguem lançar algo que é de substância?”. A resposta: sim. Hoje, nessa moda insuportável de apelidar qualquer banda na estética de ambas como “emo revival”, esses conjuntos mostram algo: há sim coisas importantes acontecendo entre pequenas gravadoras e as bandas que elas abrigam. A música independente e o coração agradecem.

 
 




Adventures / Run Forever 7″ Split [2014]










Certa aptidão ocorre no indie internacional: aumentar o volume dos instrumentos e abaixar o vocal, e eu amo isso! O fator “superprodução” é um saco, limpar todo o som é uma merda, a vida não é sempre tão arrumadinha e certinha. Aliás, a minha, quase nunca. As coisas que passam pela minha cabeça, meu deus, tão incertas e esquisitas que pedem tipos musicais cada vez mais improváveis e anormais. A minha vida é feita de tantas incertezas- música é uma das poucas certezas- que é bom saber que existem pessoas do mesmo jeito, passando pelas mesmas merdas (minha meta nesse post é quebrar o recorde de “merdas” em uma única postagem).

Na união do Adventures com o Run Forever, é realizado um trabalho pequeno, porém muito inteligente. A comunicação entre ambas as bandas não poderia ser melhor, oriundas de Pittsburgh, o dialogo musical é realizado baseado em guitarras muito altas. Apesar disso, as diferenças são evidentes na primeira ouvida: em “Call Me At Night”, o Adventures usa uma tonalidade extremamente distinta. Dentre a qual, um casamento de guitarra/voz que causa um ambiente conturbado. Em 1994, isso seria muito mais elogiado, mas não é simples retromania, e sim desenvolver baseado na mentalidade de vinte anos atrás para conseguir soar refrescante hoje, e conseguem. O mesmo esquema é seguido em Thin, ainda um pouco mais lenta, com os vocais escondidos atrás do barulho instrumental.

Já o Run Forever começa com “Headlights”, uma faixa que lembra muito Basement. O que remete, na verdade, a muitas bandas que transitaram do hardcore melódico para um clima mais arrastado, com texturas de guitarras. No que se refere a uma apresentação ao vivo, essa música tem tudo para deixar algumas cabeças zunindo. Ao final, “Lost This Feeling” completa o sentido da primeira canção, não sendo tão pesada.

Em aproximadamente dez minutos, fãs de ambas as bandas e também de outras do gênero, sairão muito satisfeitos. Após ouvir essas quatro faixas, é bem provável que você comece a gostar das duas bandas- ou se era fã de uma, apreciar a outra.